[Crônica] Não podemos respirar ouro

Não podemos respirar ouro

Por: Gabriela Cuerba*


No princípio teve algo de romântico ali, como se fosse o último respiro do resto do mundo. Como se fosse o momento perfeito para estar sozinho com os nossos pensamentos. Pelo menos parecia ser. Por  trás  de  todo  conceito  louco  e filosófico,  tinha  algo  de  sério  ali,  havia  algo muito errado e todos logo descobriram e tentaram achar um ou vários culpados, afinal, não tinha como esconder demais ninguém.

 No fundo, todos sabiam que só estaria a salvo quem se isolasse do mundo exterior, além de cuidar muito bem da saúde e da higiene, como lavar as mãos frequentemente com água e sabão – e talvez nem assim fosse possível para se salvar –mas era um dos poucos métodos que tínhamos no momento para evitar o contágio da nova doença.

E na  hora  de  buscar  o  culpado  por  tudo  isso,  não  adiantava  jogar  a  culpa  na imprensa por ser portadora das más notícias, nem por ela relatar  a vida como ela  realmente  é,como  ela  tem  sido.  Tampouco  devem  culpar  nós,  jornalistas, por  causar  histeria  em  uma  nação  inteira,  não!  Temos  compromisso  com  a sociedade e informar bem é nossa missão, sempre alertando a população sobre os  riscos  e  proteções.  Ainda  assim,tem  gente  que  insiste  em  dizer  que  uma parte da culpa é nossa... Informamos  sim,  e  não  é  pouco,  tomamos  cuidado  com  as  palavras  para  não causar espanto. Mas, mesmo com tantas notícias dadas pelos grandes veículos de  comunicação,  o  cenário  caótico  e  pandêmico  no  qual  vivemos  não  cessa. Estamos  fazendo  nossa  parte  e  alertando  sobre  os  cuidados  necessários,no entanto,não podemos pegar ninguém no colo e levar para dentro de casa. Então, agora de quem será a culpa?

Será de nação descuidada? Um governo mal regido? Da própria natureza? Um presidente  que  caçoa  da  situação?  Ou  quem  sabe  um  país  inteiro?  Em  um cenário de guerra contra o vírus é fácil fechar os olhos e apontar o dedo para um culpado,  quando  na  verdade  todos  temos  uma  parcela  de  culpa  por  nossos descuidos e imprudências, mas quem quer aceitar essa a sentença? 

Lhes  foi  avisado  inúmeras  vezes  “não  saia  de  casa”,  “evite  aglomerações”, “desinfete  as  mãos”, tudo foi avisado, mas os casos do novo coronavírus só aumentam em uma quantidade lastimável. E é fato, os noticiários não mentem, e nem  as  estatísticas  desmentem:  o  isolamento  social  é  o  que  faz  diminuir  a progressão  geométrica  de  pessoas infectadas  pela  COVID-19  e  mesmo  com tanta  informação,  está  triplicando  os casos em  território  nacional  e no  globo inteiro! 

Isso faz com que as pessoas vivam com medo, respirar tornou-se um perigo e o contato humano uma possível sentença de morte. Quanta ironia, quem pensou que viveríamos para ver a Terra parando, a economia descendo, as pessoas se isolando com medo de respirar o ar que o outro respira.

E em meio a tantos acontecimentos, muitos tapam os olhos e ouvidos, parecem até enfiar a cabeça na terra feito um avestruz, ignorando os avisos, dizendo que o  coronavírus  é  só  mais  uma  “gripezinha”que  não  mata,  ou  que  é  uma conspiração de um governo comunista para derrubar o mercado capitalista. Que o comércio não deve parar e as pessoas têm que ir às ruas, consumir e gastar. Quanta bobagem! E quem paga por essas asneiras é uma nação inteira. 

Mas talvez, só talvez, alguns finalmente descobriram que não é possível respirar ouro  e  que  o  dinheiro  não  compra  a  saúde  de  um  ente  querido,  que  se  os comércios e empresas continuarem abrindo enquanto acontece uma pandemia viral, não sobrará ninguém para gastar um real.

E  o  mais  irônico  de  tudo  isso,  é  que  em  meio  a  tanta  tragédia,  o  vírus proporcionou  momentos  profundos de reflexões –ou  pelo  menos  deveria  ter proporcionado.  Pois,  em  tempos  não  tão  distantes,  muitos  pensavam  em autodestruição por causa de guerras sem sentido, agora, aprenderam na dor da solidão a importância da união, da alteridade e do coletivo. 

É tendo apenas contatos virtuais que percebemos a importância de um abraço e vemos que só a tecnologia não preenche o coração e uma alma vazia. A Cidade  Luz,  agora  mergulhada  na  escuridão  é  vazia  e  silenciosa,  a  cidade Eterna parece condenada a encontrar seu fim e o pequeno país conhecido por suas histórias de queda e ascensão, utiliza seu último fôlego para escrever mais uma história de dor.

Pois é,  são  tempos  sombrios...Por  causa  dessa  pandemia  iminente,  o  mundo inteiro   sufoca   em   uma   agonizante   súplica   estridente,   e   então,   na   triste desconstrução  da  humanidade,  podemos  ver  que  o  planeta  não  será  mais  o mesmo,  pois  aos  poucos  a Terra  está  sendo  regenerada  e  seus  habitantes também.

No final das contas, o mundo precisa de um novo ar, de mais um respiro, mas isso o  dinheiro não compra! A humanidade  precisa entender  que necessita de mudança, que precisa de um mundo no qual todos importam. Um lugarem que todos  sejam  conscientes  e  humanistas,  que  cuide  de  si  para  poder  cuidar  do próximo, e acima de tudo, entenda que a vida vale mais do que qualquer riqueza.Então,  se  me  perguntarem  qual  a  solução  para  disseminar  o  caos  que  se instaurou  ao nosso  redor,  a  resposta  é  simples,  mas  nem  sempre  é  fácil  de cumprir, pois vamos resolver isso juntos ao ficarmos distantes, logo: FIQUE EM CASA E SALVE VIDAS!

*Gabriela Cuerba: É estudante de jornalismo no 5º semestre.
princípio teve algo de romântico ali, como se fosse o último respiro do resto do mundo. Como se fosse o momento perfeito para estar sozinho com os nossos pensamentos. Pelo menos

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